Na verdade, a gente até usa. Só que não 100% dos 100%. Um ato tão
simples quanto conversar com o colega ao lado pode ativar todas as áreas
do cérebro. Mas só uma parte do potencial de cada uma. Se todas as
áreas funcionassem em potência máxima, e ao mesmo tempo, teríamos uma
capacidade de digerir informações, sensações e pensamentos muito maior.
É
como um computador: usando todos os seus recursos, o cérebro teria
muito mais capacidade de processamento. Não ganharíamos superpoderes.
Mas quebrar códigos, tirar conclusões e analisar situações seriam
tarefas muito mais fáceis. Como não existe registro de homem que tenha
vivido com essa supermáquina na cabeça, a referência mais próxima são os
superdotados, que têm maior capacidade de raciocínio. "Eles relacionam
informações e formam conexões com mais facilidade", diz a psicóloga
Cristiane Cruz, presidente da Mensa Brasil, associação que busca reunir
os 2% mais inteligentes do país. Ou seja, seríamos todos superdotados - e
ainda mais poderosos.
Ainda assim, ninguém seria bom em
absolutamente tudo. Alguns teriam facilidade para música, outros para
física. "Mesmo mais inteligentes, continuaríamos sendo diferentes um do
outro desde o nascimento, porque os genes de cada um interferem na
inteligência", diz Ailton Amélio, professor de psicologia da USP. Há
algo, no entanto, que seria comum a todos: nosso cérebro ficaria cansado
de tanto trabalho. E, exatamente como um computador, daria pau de vez
em quando, nos deixando com uma bela dor de cabeça.
Áreas
estimuladas do cérebro gastam 1% mais energia do que as em repouso.
Esse trabalho extra resultaria em uma canseira mental. E o cérebro
pifaria vez ou outra, nos dando dor de cabeça e brancos na memória.
Asas à imaginação
A
criatividade correria solta e ninguém ficaria preso a uma única área.
Seríamos como Leonardo da Vinci: ele pintou quadros, estudou o corpo e
inventou geringonças. A inovação caminharia mais rápido.
Bipolares
O
tamanho de certas áreas do cérebro está ligado a traços da
personalidade. Intensificar a atividade delas seria exacerbar esses
traços. Tímidos nem sairiam de casa. Extrovertidos seriam uns palhaços.
Razão e insensibilidade
Usaríamos
a lógica para calcular todas as consequências de nossos atos. E as
consequências das consequências. Uma pesquisa com superdotados mostrou
que 87,5% dos participantes eram perfeccionistas. Como eles, sofreríamos
buscando sempre a melhor escolha.
Multitaskeando
Concentrar-se
em uma só coisa seria difícil. Ficaríamos o tempo todo ligados, mudando
de uma atividade para outra. É o que acontece com os superdotados - 76%
deles se mostraram hiperativos em um estudo brasileiro, enquanto na
população essa parcela é de só 5%.